Arquivo para arquitetura - Rodolfo

Tempos modernos: o Amanhã já está acontecendo hoje

Muito provavelmente você já deve ter visto ou ouvido falar da inauguração no Brasil do Museu do Amanhã no Rio de Janeiro na praça Mauá. “([{Abre parênteses dentro de aspas dentro de colchetes dentro de chaves pra falar desse museu}])” Já chego com você onde quero chegar. Prossiga.

 

Tempos modernos: o Amanhã já está acontecendo hoje

Um espetáculo à parte desde sua concepção até sua inauguração. Coberto de metáforas, poesia e atitude, seja em seu nome, ou o lugar onde ele foi erguido, com vista deslumbrante para a Baia de Guanabara, até a descrição de seu endereço no próprio site do museu: “Praça Mauá, 1 – Centro. Rio de Janeiro, RJ – CEP: 20081-262. Evite ir de carro, não há estacionamento no Museu do Amanhã”. Nem no museu do manhã, nem nos supermercados do amanhã. (“Can I get amem?”)*

 

O Museu do Amanhã, erguido no Píer Mauá, faz parte do projeto de revitalização da Zona Portuária do Rio. Dentro desse mesmo projeto de reurbanização o empasse para a derrubada do Elevado da Perimetral, uma via expressa que interligava a Zona Sul do Rio com dois grandes pontos de acesso, a Avenida Brasil e a Ponte Rio-Niterói, que levou 21 anos para ser totalmente erguida, de 1957 até 1978. E palmas para o prefeito Eduardo Paes, que autorizou a derrubada de toneladas de aço. Será que já poderíamos considerar isso uma performance artística?

 

Além disso, como não poderia ser diferente toda a obra foi realizada com princípios sustentáveis e o próprio projeto arquitetônico, planejado por Santiago Calatrava procura aproveitar o máximo de luz do dia, refrigeração com a água da baia, que é devolvida para a de novo ao mar + espelho de água em frente ao museu que ajuda a diminui a temperatura do ambiente em 2 graus, outro espetáculo à parte são as hastes móveis que seguem a trajetória do sol, para capturar energia solar.

 

Com espaços para exposições temporárias e fixas, um café, um auditório com capacidade para 400 pessoas, apresentando uma palestra por semana, uma loja, o observatório do amanhã que tem parceria com várias instituições nacionais e internacionais e que apresentará dados atualizados sobre a situação do planeta, e oferecendo oficinas e muito mais. A primeira experiência extra-sensorial dos visitantes é com o Portal Cósmico, um domo que exibe um filme de 8 min. em 360º sobre a evolução do planeta, dirigido por Ricardo Laganaro, e tudo isso por um preço de R$10,00 a entrada.

 

O grupo dinamarquês Superflex se encarrega das primeiras exposições do museu e traz os projetos como Free Beer (clique aqui para ver), onde os visitantes tem a oportunidade de saborear uma cerveja cuja receita é livre e não tem registro de marca, podendo qualquer pessoa comercializá-la. Além dessa há também a Copylight, aqui os visitantes trabalham e fazem objetos, além do “Passeio de Baratas”, onde os visitantes são convidados a caminhar pelo museu sobre a perspectiva dessas criaturinhas, que ficarão aqui na terra por muito mais tempo que nós.

 

Uma perfeita definição sobre o conceito do museu está descrita no site do Amanhã (Eu tô amando a escolha dessa palavra como nome pro Museu):

“O grupo Superflex expõe como poucos as engrenagens que movem o mundo. Por meio da sua arte, questiona temas como trabalho, produção, consumo de massa, propriedade intelectual, tecnologia, poder, dinheiro e arte. Nada melhor, assim, para inaugurar o Museu do Amanhã, que, inevitavelmente, terá de lidar com as mesmas questões […] Eles estão certos. Um museu será relevante no século XXI na medida em que mantiver conexões vivas com o maior número possível de redes e organizações locais e globais, e com a comunidade da qual faz parte, empoderando-a.”

 

Essa metáfora palpável e gigantesca, de concreto que é o Amanhã me faz linkar com o nossos próprios museus do amanhã, centros de compras imensos, que infelizmente pouco consideram em seus projetos abordagens e posturas sustentáveis.

 

Cada um dos que já exite e dos que estão por vir a cada trimestre nos diz o que virá pela frente, modas são jeitos de vestir, e seu jeito de vestir é um posicionamento. E como estamos nos posicionando? Em nosso trabalho, nas empresas, na política do hoje e do amanhã? E em nossas próprias casa. Não falo apenas de separar o lixo orgânico do lixo sintético, mas além. A maneira como estamos produzindo e distribuindo a confecção daqui. Temos um closet gigantesco com inúmeras variedades e muita qualidade, mas precisamos nos lembrar 24 horas por dia que o mundo não se restringe as paredes de nossa casa e o que de excesso que botamos para fora dela não some com o vento. Uma prova disso é o Rio Capibaribe. O que vestimos foi feito por alguém e tudo o que consumimos pode voltar em um dia de chuva e bater na nossa porta dizendo – “Lembra de mim?” (copinho de café).

 

É um círculo que está em movimento constantemente. A sustentabilidade é como a moda: as mesmices da moda voltam atualizadas, as mesmices da natureza voltam enfurecidas.

 

*Posso ter um amém?

 

bruno melo Bruno Melo é estudante e pesquisador da graduação de Arte e Mídia – UFCG-PB. É ator e já atuou, produziu e dirigiu algumas peças na cidade de Santa Cruz do Capibaribe. Participa desde 2013 na produção do Festival Atos de Teatro Universitário do curso de Arte e Mídia e em produções multimídias e trabalhos de conclusão do curso, como instalações artísticas, peças teatrais, videoclipes, como assistente de arte e produtor. É idealizador de um projeto do amanhã: o Jogar Teatro com aulas aos sábados na Usina 321.

Sobre Box Fashion - redação

Redação do Box Fashion. Moda no polo de confecções do agreste Pernambucano. Consumo, mercado local e conteúdos especiais sobre tudo que cerca a moda. Iluminuras, criatividade e indústria fashion no interior de Pernambuco. @oboxfashion

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Uma visita de muitas histórias na casa de Sílvia Clemente

Sempre que visitamos pela primeira vez a casa de alguém muitos cuidados passam pela cabeça como se a voz da mãe ressoasse dizendo: se comporte, não quebre nada, não mexa em nada, não respire e só fale o necessário. Intensificada a sensação ou não, toda visita é sempre cuidadosa, silenciosa… pois a casa de cada visitado tem hábitos próprios, silêncios únicos e jeitos de existir que desconhecemos. Nossa expedição da vez foi uma visita de muitas histórias na casa de Sílvia Clemente em Santa Cruz do Capibaribe.

 

Sílvia é empreendedora no ramo da moda no polo de confecções já há muito tempo. Trabalha com moda junto aos pais desde pequena e é hoje uma das responsáveis junto com a família pela empresa criada pelos pais. Depois do trabalho o lugar mais amado é a casa, lugar de refúgio com a família, de ver filmes e receber amigos e parentes quase todos os dias. Ela é casada com Pil Queiroz como é conhecido (um marceneiro artista fazedor de palhaçadas) e tem com ele uma filha chamada Flora Clemente.

 

silvia clemente casa outubro 2015
Fotografias: Jean Max

 

Acompanhado por Jean Max estudante de arquitetura, Rodolfo Alves foi conhecer não somente a casa enquanto construção física, mas a casa onde habitam singularidades de uma família desencanada e liberta das amarras de design e decoração de ambientes. Tudo na casa, exatamente tudo, respira identidade e história.

 

Já na chegada Sílvia recebeu o Box com um bebê no colo, a luz clara da casa é uma extensão quase do céu, cores vivas e quadros de muitos rostos nas paredes se misturam com os rostos que naquele momento conversavam… a casa cheia de amigos, parentes, tias, madrinhas e um bebê no colo, sobrinho de Sílvia. Os rostos nas paredes assinam a presença do que Sílvia tem de mais sagrado e valioso: a família, um tipo de capital social que não se possui pela efemeridade dos tempos contemporâneos. De cara, Sílvia solta uma pérola que vai nortear toda a visita e o conhecer desse lugar:

 

“Obra de arte pra mim é foto de minha família, minha história é minha arte”

 

silvia clemente casa outubro 2015
Foto: Jean Max

 

Nas paredes apenas um quadro pintado por Fábio Xavier acompanha imagens de Pil (marido de Sílvia) maquiando Flora (a filha) de palhacinha para uma apresentação escolar entre sorrisos imensos “do povo da gente” como fala a própria, ao se referir aos seus: “o povo da gente daqui de casa”. A redundância representa o apego, o vínculo.

 

silvia clemente casa outubro 2015 (37)
Foto: Jean Max

 

Cadeiras da avó Severina Clemente, quadros peruanos na cozinha, fotos de tudo, desenhos infantis emoldurados nas paredes, sofás cobertos com tecidos do bairro do Brás em São Paulo, escolhidos por Sílvia e seu pai, peças decorativas da Fenearte, plantas, muitas plantas,  um banco em madeira reciclado de outros parentes e as inusitadas pendurezas de garrafinhas na entrada de ar que recebem o vento e espalham as cores, além de  móveis projetados e feitos pelo próprio Pil que é marceneiro. Regras quebradas, a casa é pura poesia, uma fuga descomplicada ao design regrado por planejamentos perfeitos, fazendo da casa não somente um equipamento de moradia mas uma extensão do ser e do habitar com as sutilezas de identidades.

 

silvia clemente casa outubro 2015
Parentes e amigos ao redor da mesa no domingo – Foto: Jean Max

 

Ali, acompanhados dos parentes e da família, Silvia, Flora e Pil todo, receio de ser visitante se dissipa com a recepção desencanada que diz com sinceridade “fiquem à vontade” e faz além das palavras um visitante se sentir assim, ‘à vontade’, com vontade de estar ali. Clique nas fotos da galeria para ampliar e ver mais. Lindas imagens de inspiração para morar.

 

 

Sobre Box Fashion - redação

Redação do Box Fashion. Moda no polo de confecções do agreste Pernambucano. Consumo, mercado local e conteúdos especiais sobre tudo que cerca a moda. Iluminuras, criatividade e indústria fashion no interior de Pernambuco. @oboxfashion

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