Trabalhar já não é lá coisa fácil, na nova novela da Globo trabalhar com moda em uma revista é a pior coisa que alguém pode querer. Trabalhar na revista que nomeia a trama é humilhante, estressante e degradante. Desde Miranda Priestly e outros tantos exemplos de editoras de moda (celebrizadas, glamourizadas) nós fomos ensinados que a moda é um ambiente hostil de humilhação e vergonha na hierarquia de chefes estúpidos, arrogantes e sem noção como a Carolina da novela.
Fetiche sadomasoquista
O glamour que cerca Carol e essas outras figuras da moda torna elas pessoas idealizadas como as que seguram nas mãos o mundo da moda (nem sempre fácil) e podem com isso agir de forma estúpida como agem: numa das cenas que vi recentemente a editora da revista Totalmente D+ interpretada (brilhantemente) por Juliana Paes chega na redação dando esporro na equipe, ameaçando demitir, e falando que os mesmos não são pagos para algo nem sei o que. Um tipo de ocupação que depois da Netflix eu pouco vejo, é novela, mas ao ver a cena algo me inquietou. O pior é ver como os autores (sei lá, esse povo pensa?) colocam as personagens oprimidas pela postura arrogante de Carol em pleno terror com os gritos dela e depois a idolatrando como uma deusa, justificando seu amor e admiração por aquela demônia arrogante.
Novela da Irrealidade
Em pleno século 21 quando as empresas se tornam cada vez mais colaborativas em busca da inovação e criatividade, tão difícil quando tudo parece já ter sido inventado, movimentos importantes na sociedade desconstroem cada vez mais esse mundo fantasioso de Carol e traz a premissa do monge e do executivo colocando (tentando) todos os jogadores do jogo da moda em constante troca e simbiose que quebra a lógica de chefia, e carrega cada vez mais perfis de liderança e trabalho conjunto. Fazer moda assim como medicina, direito, engenharia é muito cansativo, mas nenhum trabalho deve ser como o da redação de Carol. Por isso a novela é fraca em recorrer ao clichê do abuso de poder idealizado de belo e vigorante. E fraca de novo com o clichê que constrói a imagem da mulher mau educada e violenta que só consegue sucesso sendo um monstro, um engodo. Entendo que ter sucesso sendo mulher não é das coisas mais fáceis no país que somos, mas ser facilmente vilão é coisa que como engodo sempre recai à figura feminina.
Minha amiga secreta
Carolina é a chefe que eu odiaria ter, é a chefe que me acalentaria em pesadelos, a chefe que me faria odiar a profissão, odiar o trabalho e odiar a vida, tudo porque em tempos de crise empregos devem ser mantidos, famílias precisam ser sustentadas e suportar chefes não deve ser um imperativo no mundo moderno e informado de hoje em dia. Tenho a maior consideração pelos meus chefes e ex-chefes, contrários a essa maluca de pedra e mau educada. Eles me motivam, me questionam e me ensinam sempre mais, me apoiam(ram) a liderar ideias e ser o melhor do meu potencial no trabalho. Ai que raiva do clichê Carol totalmente de menos, com isso eu também acabo de me desfazer da tirania que eu admirava em Miranda. Ninguém merece e moda e trabalho não é isso, outro nome totalmente adequado é assédio moral e humilhação. N pra ela. Totalmente de menos: isso não é moda.