Arquivo para senso coletivo - Rodolfo

FOTOGRAFIA DE MODA NO AGRESTE PERNAMBUCANO

Esta é uma matéria que atualiza outra. Anteriormente em dezembro de 2017 eu escrevia sobre 7 fotógrafos de moda para conhecer no polo de confecções e hoje para celebrar o dia do fotógrafo, da fotógrafa e da fotografia, refiz a lista me convidando a ver o cenário da fotografia em si, permeada pelos talentos locais, por isso o título desta atualização é Fotografia de moda no agreste Pernambucano.

Em 2017 minha preocupação era brifar talentos, mostrar eles ao mundo, e dizer que no interior do estado haviam nomes que significavam essa nova levada de criativos fazendo a moda local. Hoje, depois de dois anos os talentos até mudaram de nome, alguns não estão mais na carreira clicando, outros mudaram de segmento e novos nomes entraram para lista, bem como merecem ser citados quem continua a labuta de fotografar os looks das marcas locais.

Vamos então deixar a lista de nomes para o final, e antes disto pensemos como a fotografia de moda está funcionando enquanto mercado local.

Empasses atuais e valor profissional

Na matéria anterior ouvi os profissionais listados a respeito dos empasses que lidavam e me pergunto se hoje esses empasses foram superados. Receio que não. Como eu lido diretamente com esses profissionais, ainda acompanho o dilema da valorização dos talentos da fotografia, quando por exemplo, o assunto é orçamento e valor pelo trabalho.

Muitas vezes o olhar para estes profissionais se coloca no esquema do fast photo (relativo a fast fashion), que para atender demandas muito rápidas de produção da comunicação, sempre tem no escopo: muitas fotos, produção básica, edição rápida e remuneração mínima, onde para ter acesso a um valor maior, alguns profissionais oferecem mais quantidade de cliques, com edição ainda mais básica para uma entrega que acompanhe a velocidade por exemplo, das redes sociais.

Por falar em redes sociais, este é outro ponto que a meu ver está posto para levar os clientes a questionarem a validade do trabalho de fotografia profissional, uma vez que clicar com a prima da tia, num iphone pode ser mais ágil e mais barato que ter uma produção fotográfica profissional, a ponto de garantir a rapidez monstruosa que as redes ilusoriamente demandam (a gente sabe que marketing de conteúdo é outra história; o fast post também é um engodo, cá pra nós.)

Tendo tais pontos arrodeando o trabalho da fotografia de moda enquanto mercado na região, quais as saídas que eles e elas tem encontrado para se posicionarem aos clientes, aos concorrentes e a si mesmos?

Acompanhe as citações de cada um dos profissionais citados nas redes sociais do Box Fashion @oboxfashion.

Classe profissional e senso coletivo

Em 2019 um grupo de parceiros criativos (me incluo), juntou-se a/na CDL Santa Cruz para criar a então Câmara setorial de moda e criatividade, na ocasião eu claramente percebi que esse seria um trabalho muito inicial, justamente pelo feeling de entender nossa inabilidade (me incluo) de nos vermos enquanto setor coletivo unido (estrategicamente me refiro).

Fizemos diversos convites, encontro de formação da câmara e WhatsApp indo e vindo, para conseguirmos juntar (formação atual) 5 profissionais divididos em várias áreas. A da fotografia inclusive até hoje sem nenhum representante específico.

O que isso significa? Por que não conseguimos institucionalmente ou não, formarmos grupos ativos de colaboração estratégica para performar no mercado?

Segundo Sandra Roberta que é cientista social e pesquisadora do polo de confecções pela UNICAMP:

Sandra Roberta

…a ideia de ações coletivas no Polo de Confecções é ainda muito insipiente e historicamente não se observa tal tradição. Obviamente temos que considerar a importância das diversas atividades desenvolvidas pelas associações empresariais; no entanto, no que se refere às outras categorias ainda não é possível brindar grandes êxitos.

E não quero dizer com isso que já não existam intentos significativos. Pelo contrário, é possível identificar vários/as atores e atrizes que tentam construir no dia a dia espaços de discussão, reflexão e coletividade. E apesar de pontuais, tais ações são de suma importância para desenvolver na população do Polo de Confecções o senso de coletividade.

É cada vez mais urgente sair dos espaços privados onde a preocupação se encerra apenas na produção/venda da confecção e sobrevivência familiar e começar a participar ativamente dos espaços coletivos, colocando nas pautas das discussões as problemáticas que atingem a todos/as, a fim de conquistar melhorias no âmbito pessoal,profissional e social.

Outro ponto aberto na mesa para pensarmos é a seguinte questão: por que fotógrafos e fotógrafas de outras cidades tem sempre o valor agregado de um status maior que os talentos internos? Como essa tecitura se cria? O que esses profissionais de fora tem a nos ensinar sobre essa relevância de valorizar o próprio trabalho? Seriam cases de marca pessoal para a Débora Alcântara do Tudo Orna? Esse curso eu perdi.

Concorrência: a fotografia no atacado ou fast photo

Outro aspecto que circula o setor para além do desencontro estratégico enquanto classe, é a concorrência. Mesmo tendo um número quase infinito de marcas como potenciais clientes, mesmo com agendas lotadas durante o dia e noite com cargas de trabalho que beiram a exaustão física, emocional e mental, o setor se comporta repetindo no mercado da fotografia o mesmo pensamento da feira: vender muito e vender barato. Algo como fotografia no atacado. Deixando brecha para que a barganha estando no preço, nada precise ser feito de muito significativo ou criativo enquanto imagem de moda.

Nem vou citar aqui, o entendimento geral de que fotografia de eventos é mais valorizada que a fotografia de moda.

Ai ponha na lista os cursos de fotografia no celular que tem surgido por aqui, as inovações tecnológicas e a cultura de capital que pensa sempre o talento como um número no orçamento, antes de significar a entrega do valor simbólico e o resultado para a marca.

Valor simbólico X look book

O valor simbólico de uma fotografia de moda para a comunicação de uma marca, cria no consumidor o senso estético e o apelo necessários não apenas ligados ao interesse superficial da venda do produto em si.

Em tempos de marketing regido pela esfera do relacionamento (digital ou não), as histórias para contar que possam envolver os consumidores e lhes significar, reverberar para além dos sensos comuns, é algo que ainda não vemos com frequência nas marcas às margens da PE que corta o polo de confecções… uma necessidade que a minha geração tem tentado atender.

Dito isto, pense no exemplo da propaganda de calça jeans: sempre com uma modelo branca seminua, deitada na praia, a calça molhada, segurando os seios, com um homem branco malhado, segurando ela por trás sensualmente, e sorrindo como quem assiste ao Winderson Nunes no You Tube. Você já viu essa cena em quantas marcas de jeans?

Esse é o espaço criativo que a fotografia de moda, ainda não consegue ocupar. Não por limitação técnica dos profissionais, inclusive há muitos bons nomes e trabalhos muito significativos por aqui. Porém a excelência e relevância de tão poucos se perde no meio de tanto look book.

Nestor Madenes, fashion editor com vasta experiência inclusive com marcas locais reforça esse sentimento a respeito do momento atual na fotografia local:

Nestor Madenes

“A imagem de moda ainda não está consolidada. Outro polos como Brusque e também no Ceará podem ser listados com cases de marcas que já performam nesse direcionamento.

A imagem de catálogo é extremamente funcional ao que se propõe. Clicar e vender de forma ágil é super eficiente, mas isso diz respeito a comercialização de itens e não de ideias e isso não é imagem de moda.

O que sinto falta são os conceitos fashion, que vem antes até mesmo da fotografia em si. Nada acontece sem fundamento ou um referencial. Se o interesse é apenas a venda, o mercado performa bem. Mas essa cena já está anos luz em transformação mundo afora.”

Ponderações

Quando vim escrever esse texto e revisar a matéria de 2017, no último parágrafo da mesma eu sinalizei alguns pontos colocados nas escutas em diversos bastidores, que nos afligiam dois anos atrás. E sabe porque eu disse no início desta matéria que receava o cenário não ter mudado muito? Por que ele não mudou.

Vou repetir aqui os pontos listados desta vez em forma de tópicos, para ser mais lúdico e pensarmos juntos se eles permanecem ou se são coisas da minha cabeça:

  • medo da inovação estética por parte das marcas (e daria tempo?);
  • desvalorização da profissão pelos empresários que não percebem o valor agregado de uma boa foto;
  • a repetição de conceitos criativos pasteurizados que limitam a experimentação do novo (aquela foto da peça no tapete com florezinhas de plástico, o cabelo escovado e liso, a mesma pose, o mesmo homem fortão e a mesma gostosona de sempre);
  • e mais uma arara de problemas pendurados que são deixados de lado pela correria das vendas.

Então façamos outro questionamento a partir de uma fala bem grosseira que sempre resolve todo dilema com o seguinte clichê:

Como assim as fotos precisam ser boas?, eu faço no celular com minha filhinha de 4 anos e minhas peças vendem como água”.

E tá errado? Não está. Pensando em contextos o cliente que ainda tem esta visão, muito certamente pertence a um grupo de empreendedores, com uma visão do trabalho de moda ainda carente de entender a diferença básica entre preço e valor.

Isto também sinaliza a inabilidade da classe profissional de educar o público. Fomentar cursos de fotos no celular, é o tipo de tiro no pé que vem se repetindo comumente na mesma lógica da feira, preço acessível, curso rápido e etc. Soluções rasas para demandas profundas. Um talento do capitalismo.

É sempre importante pensar no contexto, para que fique claro que minha fala aqui não se trata de pessimismos, nem de azedumes arianos. Eu inclusive imagino que no mercado deva haver espaços para o maior mix de possibilidades criativas, inclusive com a fotografia de celular. Soluções são soluções e para quem empreende com a faca nos dentes como é no Brasil, quanto mais rápido e mais barato: melhor para quem faz.

O que ocorre nesta matéria de ser provocadora do pensamento e de reflexão quanto ao trabalho da fotografia localmente, é que estes empasses hora ou outra vão precisar ser olhados de frente. Pelas marcas, pelos profissionais e também por quem usa a nossa moda. Um ponto que já daria outra matéria: o público como variante desses empasses.

O quanto antes essa conversa começar, mais conseguiremos alinhar algo de sustentável para quem produz e para quem clica. No final das falas, o que teremos possivelmente pode ser uma imagem estonteante de moda, sedutora na medida certa do público a que se destina. E bem feita ao ponto de ser vista e pensada enquanto estilo de um talento que aperta o botão atrás da câmera.

Com todos os empasses e questões abertas, o Box Fashion tem como interesse fundamental de ser espaço de construção e diálogo, para criar novas formas, questionar e pensar a moda local. Agora vamos conhecer quem faz a fotografia de moda no agreste pernambucano. Mas acredite, ainda tem deles que precisam vender os jobs dizendo que está no começo da carreira.

Conheça quem faz fotografia de de moda no agreste pernambucano

RAMIRE LINS

Instagram: @ramire.lins

JUELAYNE GONDIM

contato: @juelaynegondim

ANDERSON CHAGAS

Contato: @anderson_chagass_

FELIPE LUCAS

Contato: @felipeportraits

GUILHERME SOUZA

Contato: @euguilhermephotos

ERIC MONTEIRO

Contato: @ericmonteiro

RUAN MARANHÃO

Contato: @ruanmaranhao

Sobre Rodolfo Alves

Sou publicitário que vivo criando conteúdos e ideias, fuçando novidades. Amo a comunicação e estou interessado pela moda no mundo: seja ela nas passarelas de grifes famosas ou nas feiras populares do Brasil.

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