Entre horizontes de panos, mototaxistas, poeira e poesias chega “Agda”
Agda chega na porta dos nossos ouvidos: a artista santa-cruzense que por onde chega de pé mesmo fica e toca ouvidos ao redor pelas portas e calçadas, com poemas dispersos que juntos são entoada, refresco na rotina da vida do agreste. Acompanhando ela em alguns poucos momentos que conseguimos estar juntos, devido minha rotina capitalista e sua vivência híbrida de artista sem teto abaixo e nem piso acima… observei atento o tocar do som dos poemas que Agda soltava como fios de linhas pelas calçadas que andávamos emeranhando e alinhavando pessoas, sentimentos e coisas no tempo… quando numa casa e noutra avista um conhecido de antigamente e pergunta por fulano e beltrano e cicrano e sabe dos meninos e meninas recém nascidos… eu me apresso sempre e as vezes dizia entre os nossos, “Agda é que nem uma vereadora, sai falando com todo mundo. bora mulher… avia.”
Mas sim, vereadora de alegrias e despertares sutis: com uns olhos atentos, cenho franzido como faz prestes a nos mergulhar em busca de profundezas; quando ela fala de água, água em tudo, água agda, água viva, água, água em movimento. E com essas mesmas águas… Agda sai regando as rotinas de um agreste que tanto e as vezes somente se reconhece no labor, na labuta e no trabalho. (Nem se engane… para tanto que a vida é, festa junina é muito pouco.) E a festa desta artista se faz em qualquer lugar, qualquer calçada.
De longe quem ver atina uma fofoca, uma notícia, uma novidade deixando o povo alegre, alguém que chegou de longe, de volta. Eu observei os olhos de quem escuta se encherem de águas. E na combinação dos sons das rimas uma salva de palmas erguidas em risadas estouradas pelo supetão da surpresa dos versos, se resolveu, se deu assim, a rima chegou e inundou todos ali. Uma criança acorda com os adultos em algazarra, e todo mundo se preocupa que ela fique um pouco mais. E ela não se vai.
Toda presença poética é como a melancolia de olhos molhados de quem olha o tempo passando pelo vento na janela de carro em movimento sem vírgulas apressadamente como quem costura a rotina da vida nos buraquinhos que agulha insiste em furar para unir pastes sem pontos finais. É parte do que senti com a audição de 3 de suas canções dispostas em seu primeiro trabalho formatado para além das calçadas. Agda____
Sobre o Disco
Com produção de Juliano Holanda, a carta sonora conta com a participação e colaboração de vários artistas como Neide Maria, Fábio Xavier, Flaira Ferro, Almério, Isaar, Isabela Moraes, Mery Lemos, Virgínia Guimarães, Joana Terra, Ezter Liu, Olegário Lucena, Jr Black, Lirinha entre outras(os).
O disco tem seu nome, e é dividido em quatro tempos, trazendo em musicalidade e poesia a multiartista Agda. “Apontar”, “Us Doidus”, “Ter Sidos” e “Poeira”, são os nomes dos quatro tempos que foram divididos com quatro canções.
Em “Apontar” é possível percorrer um trajeto musical andando pela feira, o rio Capibaribe e o Agreste. No tempo “Us Doidus” o sentimento de cortejo e carnaval desmanchando. Em “Ter Sidos”, ruas, lavadeiras, o horizonte de pano, entram em uma narrativa gostosa de ouvir com letras bem construídas avistando o último tempo, “Poeira” onde se retrata uma terra solta e quente, e também o fim da cartografia sonora.
Neste álbum, é possível ouvir parte da voz que diz o agreste. Agda é filha, neta e bisneta maternalmente de costureiras e paternalmente de poetas, desde criança compunha canções de ninar para o seu irmão Raimon. Com letras e paisagens, cada tempo tem seu relevo unidas a musicalidade e sensibilidade deleitável já conhecida do produtor, Juliano Holanda.
O folk cigano e violas marcadas por falas polifônicas, sons singelos unido à poesia singular, expressam no primeiro álbum de Agda uma sintonia entre música e escrita. O lançamento oficial será realizado na sua cidade natal, Santa Cruz do Capibaribe, no dia 13 de Novembro, em uma apresentação gratuita na Rua Grande.
Informações:
Lançamento do disco “Agda” – Palco Som na Rural
Às 19 horas, 13 de Novembro de 2022
R. Grande, Santa Cruz do Capibaribe – PE
Entrada Gratuita