Sempre que visitamos pela primeira vez a casa de alguém muitos cuidados passam pela cabeça como se a voz da mãe ressoasse dizendo: se comporte, não quebre nada, não mexa em nada, não respire e só fale o necessário. Intensificada a sensação ou não, toda visita é sempre cuidadosa, silenciosa… pois a casa de cada visitado tem hábitos próprios, silêncios únicos e jeitos de existir que desconhecemos. Nossa expedição da vez foi uma visita de muitas histórias na casa de Sílvia Clemente em Santa Cruz do Capibaribe.
Sílvia é empreendedora no ramo da moda no polo de confecções já há muito tempo. Trabalha com moda junto aos pais desde pequena e é hoje uma das responsáveis junto com a família pela empresa criada pelos pais. Depois do trabalho o lugar mais amado é a casa, lugar de refúgio com a família, de ver filmes e receber amigos e parentes quase todos os dias. Ela é casada com Pil Queiroz como é conhecido (um marceneiro artista fazedor de palhaçadas) e tem com ele uma filha chamada Flora Clemente.
Acompanhado por Jean Max estudante de arquitetura, Rodolfo Alves foi conhecer não somente a casa enquanto construção física, mas a casa onde habitam singularidades de uma família desencanada e liberta das amarras de design e decoração de ambientes. Tudo na casa, exatamente tudo, respira identidade e história.
Já na chegada Sílvia recebeu o Box com um bebê no colo, a luz clara da casa é uma extensão quase do céu, cores vivas e quadros de muitos rostos nas paredes se misturam com os rostos que naquele momento conversavam… a casa cheia de amigos, parentes, tias, madrinhas e um bebê no colo, sobrinho de Sílvia. Os rostos nas paredes assinam a presença do que Sílvia tem de mais sagrado e valioso: a família, um tipo de capital social que não se possui pela efemeridade dos tempos contemporâneos. De cara, Sílvia solta uma pérola que vai nortear toda a visita e o conhecer desse lugar:
“Obra de arte pra mim é foto de minha família, minha história é minha arte”
Nas paredes apenas um quadro pintado por Fábio Xavier acompanha imagens de Pil (marido de Sílvia) maquiando Flora (a filha) de palhacinha para uma apresentação escolar entre sorrisos imensos “do povo da gente” como fala a própria, ao se referir aos seus: “o povo da gente daqui de casa”. A redundância representa o apego, o vínculo.
Cadeiras da avó Severina Clemente, quadros peruanos na cozinha, fotos de tudo, desenhos infantis emoldurados nas paredes, sofás cobertos com tecidos do bairro do Brás em São Paulo, escolhidos por Sílvia e seu pai, peças decorativas da Fenearte, plantas, muitas plantas, um banco em madeira reciclado de outros parentes e as inusitadas pendurezas de garrafinhas na entrada de ar que recebem o vento e espalham as cores, além de móveis projetados e feitos pelo próprio Pil que é marceneiro. Regras quebradas, a casa é pura poesia, uma fuga descomplicada ao design regrado por planejamentos perfeitos, fazendo da casa não somente um equipamento de moradia mas uma extensão do ser e do habitar com as sutilezas de identidades.
Ali, acompanhados dos parentes e da família, Silvia, Flora e Pil todo, receio de ser visitante se dissipa com a recepção desencanada que diz com sinceridade “fiquem à vontade” e faz além das palavras um visitante se sentir assim, ‘à vontade’, com vontade de estar ali. Clique nas fotos da galeria para ampliar e ver mais. Lindas imagens de inspiração para morar.