Arquivo para costura por encomenda - Rodolfo

Quem faz a sua roupa? Hilda Xavier e a costura à moda antiga

Visitamos a casa e o ateliê da costureira Hilda Xavier na cidade de Taquaritinga do Norte numa entrevista para descobrir através de sua história a história de outras tantas costureiras no polo de confecções. Costureira à moda antiga, de encomenda, alfaiate… a profissão dos moldes que antecede a industrialização da moda permanece viva na forma que foi concebida, salvo os diferentes contextos, ainda existe um público cativo que se interessa pelo trabalho meticuloso de caráter exclusivo das costureiras que medem o corpo, tiram modelos de revistas do Instagram e realização sonhos.

Quem faz a sua roupa Hilda Xavier e a costura à moda antiga (19)
A galeria de imagens do celular de Hilda carrega os modelos que são referência para as peças pedidas pelas freguesas.

 

A profissão de Hilda é como um protesto aos processos do design industrializado, da produção em massa, da des-indentidade que tantos produtos iguais nos obrigam a ter/ser. Ela nos contou sobre seu começo e nos deu uma ideia de como é ser costureira à moda antiga hoje, em tempos tão modernos. Hilda Cristina Leandro da Silva Xavier, 59 anos. Costureira à moda antiga:

 

Chego na casa de Hilda e a encontro pegada com a costura de roupas em finalização para clientes que vão à festa de São José na cidade de Vertentes… a conversa começa naturalmente e meu esquema de perguntas fica na bolsa.

 

Hilda Xavier: Faço de tudo, mas não gosto de trabalhar com jeans. Não tenho o maquinário e nem pretendo, porque não gosto mesmo. Eu costuro das roupas mais triviais: vestido, shorts, saias e blusas até trajes sociais de formatura, casamento e vestido de noivas, fantasias… e roupa do noivo também (risos), até roupa de freiras eu já fiz, roupas de coroinhas, fardamento de bandas maciais, roupas do Capitão Mor.

 

Box Fashion: Como é sua rotina de trabalho?

Hilda Xavier: Hoje em dia eu trabalho pouco, no máximo 5 ou 6 peças ao dia, antigamente eu já cheguei a fazer 28 peças por dia, embora que fossem peças simples. Tem peças que eu passo dois a três dias, mas no geral hoje é mais fácil de fazer o trabalho. Os vestidos são mais fáceis, antes era tudo feito só à mão.

 

Box Fashion: Como era antes?

Hilda Xavier: As pessoas olhavam o que queriam nas revistas, misturavam modelos, copiavam, hoje quase não se usa mais a revista, é mais internet, chegam com a foto no celular. Uma vez me aconteceu uma coisa engraçada, uma mulher chegou com um vestido, na época do auge de Clodovil e Dener, Dener tinha lançado o drapeado e ela chegou com um modelo dele num jornal. Ela era acima do peso e queria esse vestido drapeado, na época eu recusei de fazer o vestido, por que ela queria ele muito acinturado, cintura de violão, e drapeado de cima abaixo. (risos). Até hoje ela não fez mais roupas comigo.

As revistas empilhadas estão quase esquecidas pela freguesia da costureira
As revistas empilhadas estão quase esquecidas pela freguesia da costureira

 

Box Fashion: Com quais os públicos que você mais trabalha?

Hilda Xavier: Mulheres e jovens, ah e profissionais de estilo executivo. Minha freguesia tem professoras, trabalhadores de serviços mais formais. Eles gostam de roupas mais elegantes. Eu tenho freguesas que já costurei pra mãe e filha e hoje estou na terceira geração, pois eu também faço infantil. Roupinhas de batizados, para primeira comunhão.

 

Box Fashion: Em se tratando de história, como você começou a trabalhar com costura?

Hilda Xavier: Foi por acaso, no São João de 1969, eu tinha comprado tecidos para uma roupa, por sinal seria uma calça rosa com uma blusa branca de estampas rosa, eu queria usar na véspera de São João… nessa época mamãe era quem costurava pra mim, mas ela não teve tempo pra fazer e eu fui e cortei, fiz e fui pra festa. Nisso minhas amigas começaram a querer também e eu não parei mais. Fui fazendo. Papai deu bravo, por que não queria que eu pegasse as costuras dos outros, mas eu segurei… e até hoje.

Quem faz a sua roupa Hilda Xavier e a costura à moda antiga (15)

Nunca fiz curso nenhum e já inventei de tudo, mas não consigo deixar de ser costureira. Só me agrado de costurar, já fui professora, já montei lanchonete e restaurante, já fui três vezes conselheira tutelar, minha formação é em magistério e eu comecei o curso de matemática, mas eu passo o dia aqui, tranquila, e adoro costurar. Eu já inventei de trabalhar com confecção de produção em série, mas eu só aturei 6 meses, me agradei não. Eu descobri que não aguento trabalhar em série. Minha cabeça não aguenta.

 

Box Fashion: Como é o processo de trabalho para fazer roupas sob medida?

Hilda Xavier: Eu já tenho clientes que somente ligam e dizem o modelo, a cor. São de uma cartela de clientes antigos, com 40 anos comigo. Eu organizo tudo nas agendas de trabalho, todo ano eu me desfaço das últimas agendas quando começo o ano trabalhando. Mas deixo tudo anotado.

Quem faz a sua roupa Hilda Xavier e a costura à moda antiga (6)

 

As agendas da costureira guardam a história do vestuário da freguesia.
As agendas da costureira guardam a história do vestuário da freguesia.

 

Hilda ainda nos mostrou seu acervo de roupas guardadas, parte dele em fantasias doado à uma escola da cidade.

HIlda Xavier em seu ateliê
Hilda Xavier em seu ateliê

 

Parte do acervo de vestidos e fantasias são guardados até hoje
Parte do acervo de vestidos e fantasias são guardados até hoje

 

Quem faz a sua roupa? Hilda Xavier e a costura à moda antiga junto ao trabalho de tantas outras costureiras, de uma enorme importância para a moda como referência histórica que precisa ser valorizada. Uma homenagem nossa ao dia da costureira! é bom saber que a moda se faz em tantas possibilidades e que há um mundo enorme de pessoas trabalhadoras do setor que fazem ele existir com tanto valor e dignidade. Parabéns a todos os costureiros e costureiras.

Galeria completa de fotos em nosso Tumblr, clique aqui para ver.

Sobre Rodolfo Alves

Sou publicitário que vivo criando conteúdos e ideias, fuçando novidades. Amo a comunicação e estou interessado pela moda no mundo: seja ela nas passarelas de grifes famosas ou nas feiras populares do Brasil.

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