ISOLAMENTO SOCIAL DESIGUAL
Ultrapassamos um mês de isolamento social e seguimos vencendo. Deve parecer difícil ser otimista nesse momento, mas é necessário. Talvez algumas coisas que você vá ler aqui te deixe abalado, porém é preciso olharmos além, saber que diante de todo caos há chama, fogo, milhões de oportunidades para a partir de agora olhar diferente pra fazer diferente.
Em época de quarentena, onde sair de casa deve acontecer apenas em casos necessários, como comprar alimentos e remédios, todo mundo tem mais tempo para pensar e se informar. E é engraçado como diante de uma pandemia são apresentadas algumas contradições: como o quanto o ócio cansa, ou o quanto a natureza se autorregenera, como a impossibilidade de um simples abraço nos comove, e ainda: como a desigualdade de renda e social é enorme e os interesses individuais se mostram maiores que os sociais.
Você deve ter visto algum pronunciamento de empresários multinacionais, e até do próprio presidente da república dizendo que a economia não pode parar, que o isolamento deve ser verticalizado, ou seja, apenas para os grupos de risco, e que o vírus, que já matou mais de 170 mil pessoas em todo o mundo, não passa de uma “gripezinha”.
Parece distante da nossa realidade mas somente nesse mês de abril, quase 3 mil pessoas já morreram no Brasil, se essa realidade ainda é distante, você consegue ver na fala desses empresários alguma semelhança com seu patrão, com o vizinho que tem uma pequena empresa?
CONTRASTE DA CONCENTRAÇÃO DE RENDA
Um dado do jornal El País (2017) mostra que os seis brasileiros mais ricos concentram a mesma riqueza que metade da população mais pobre, estamos falando de seis versus cem milhões de pessoas.
Não é de hoje que essa pirâmide da desigualdade social existe, mas foi através de discursos de interesses, de vermos trabalhadores submetidos a risco de contaminação, dos profissionais de saúde não terem os recursos básicos para permanecer na linha de frente, de vídeos mostrando uma única pessoa levando o estoque de álcool do supermercado, do aumento dos índices de violência de gênero (violência doméstica) – como indica a reportagem do G1 (abril/2020), com o aumento de 50% e 30% dos percentuais de violência de gênero no Rio e São Paulo respectivamente, em relação ao mês anterior – e do governo pedindo pra população lavar as mãos sendo que metade da população brasileira não tem acesso a água potável (Correio Braziliense, 2018), que necessitamos modificar nossa forma de pensar e viver em sociedade.
Precisamos pensar coletivamente, o capitalismo é insustentável, é devorador. É difícil encararmos a realidade, mas é importante compreender que o passado não volta mais, de fato, por mais que resistam e queiram o retorno da rotina, não voltaremos para o que vivíamos anteriormente, essa pandemia balançou toda uma estrutura mundial já estabelecida, e nos apresentou diversas disfuncionalidades.
Precisamos pensar numa economia que sirva a população e não o contrário, também não é hora de pensar em consumir é o momento de trocar, é obvio que sairemos dessa mais fácil se tivermos empatia pelo outro. Pensar em como essa estrutura funciona é pensar nas condições de sobrevivência do carroceiro, da costureira, do vendedor ambulante, da diarista, da dona de casa, e diversas outras estruturas sociais. É hora de olhar pro lado e ver quem está no seu barco e ajudar a remar, que a maré alta uma hora se acalma.
JOÃO PEDRO é engenheiro civil por formação, estudante de design, pesquisador de gênero e corporeidades, integrante do colab Gambiarra e se interessa por discutir comportamentos de moda e economia circular. @jpnunesr