Demandas da economia local
O surgimento da indústria de confecção da cidade de Santa Cruz do Capibaribe data o início da década de 50, na época a atividade confeccionista era de subsistência e emergiu como uma alternativa à decadência da atividade produtiva vigente: a agricultura.
Nos primórdios dessa indústria, as fábricas eram familiares e funcionavam em condições precárias, os produtos eram de baixa qualidade e a escoação da produção era feita nas calçadas das ruas da cidade. Com a expansão das vendas, surge a “Feira da Sulanca”, e essa indústria passa a se consolidar como um polo regional, nesse momento a indústria de confecção deixa de ser de subsistência e se firma como uma indústria lucrativa que gera até hoje emprego e renda para a população local e para as cidades circunvizinhas.
Atualmente esse arranjo produtivo gera cerca de 38.973 empregos e comporta 38% das fábricas de confecção do APL de Confecção do Agreste do estado, (Sebrae, 2003) possui ainda o maior centro atacadista do Brasil, o Moda Center Santa Cruz, que funciona com 10 mil pontos comerciais e chega a receber nas melhores épocas do ano, aproximadamente 150 mil pessoas por semana. Esse vigoroso crescimento tem colocado a cidade e sua indústria em um patamar de destaque na economia nacional.
No entanto, 81% das fábricas desse arranjo atuam na informalidade e segundo dados do Sebrae (2013), os produtos ainda apresentam baixos níveis de qualidade como nos seus primórdios, a qualificação da mão-de-obra ainda é escassa e a competitividade do arranjo é geralmente associada aos benefícios advindos dos baixos custos com mão-de-obra e as economias de escala devido a seu alto nível de produção. Acrescenta-se a esse fatores aspectos como: a) Falta de profissionalismo; b) Predominância de empreendimentos informais; c) Carga tributária excessiva; d) Questão ambiental; e) Imagem alicerçada em produtos de baixa qualidade; f) Falta de segurança (SEBRAE, 2013).
Além dessa baixa eficiência econômica que compromete a sustentabilidade desse arranjo, soma-se a isso a falta de infraestrutura da cidade para atender os clientes que visitam essa indústria e o seu mercado de mão-de-obra. Essa discrepância entre o crescimento econômico que a cidade gera e nível de bem-estar social podem ser expressos nos dados que mostram que 57% das ruas não possuem logradouro, 48,6% das ruas não são pavimentadas, 31,6% das casas não possuem calçadas para pedestres, 16.6% da área urbana não é arborizada (Sebrae, 2013), dados tidos como inaceitáveis para uma cidade industrial, que dinamiza a economia local gerando externalidades positivas para os demais setores. Além desses fatores identificados na pesquisa realizada pelo Sebrae, aspectos como falta de transporte público, problemas no tráfego urbano, especulação imobiliária, alto custo de vida e falta de investimento público na cidade incrementam os problemas que dificultam a ampliação dessa indústria e comprometem seu desempenho.
Por outro lado esse arranjo possui pontos fortes que garantem seu sucesso, como: a) Capacidade empreendedora; b) Adaptabilidade à mudança; c) A existência de “pessoas guerreiras”; d) Formas de negociação; e) Capacidade produtiva das pessoas e das máquinas; f) Localização do arranjo; g) Radiação do arranjo; h) Alta concentração de empresas em pequeno espaço geográfico (SEBRAE, 2013). No entanto, esses aspetos sozinhos sem o apoio institucional do poder público e dos órgãos de fomento não conseguem combater as debilidades dessa economia nem tão pouco impulsionar seu progresso.
Nisto, a cultura empreendedora do povo da cidade que possibilitou o surgimento dessa indústria precisa de políticas públicas de incentivo e de investimentos em estrutura e em qualificação profissional e educação empresarial, visto que é preciso mudar a mentalidade vigente no arranjo de que a produção em larga escala e a diminuição de custos com mão-de-obra sem qualificação são fatores indutores da competitividade. No lugar dessa ideologia ultrapassada é preciso emergir práticas administrativas profissionais, implementação de técnicas produtivas que primem pela qualidade, incentivo ao associativismo para a cobrança coletiva por melhorias e forte incentivo a formalização das 81% das empresas que hoje atuam na informalidade. É preciso portanto, modernizar a mentalidade empreendedora dos agentes locais que ainda atuam pautados em técnicas e demandas do período inicial desse arranjo.
Vírginia Vasconcelos, sócia-empreendedora da Lins e Vasconcelos consultoria empresarial, professora universitária e um crânio pensante do #BOXF. Conheça mais na matéria: Clique aqui.
Referências:
SEBRAE. Estudo Econômico do Arranjo Produtivo Local de Confecções do Agreste de Pernambuco, 2012. Relatório final Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de Pernambuco Sebrae / Pernambuco. 2013. (Moda Center)
Fonte da imagem: Blog Terra da Sulanca