Coleção Vista Margarida uma narrativa da moda e mulher do campo
Coleção Vista Margarida uma narrativa da moda e mulher do campo | Como vocês já devem saber o Box Fashion sempre procura fuçar o mundo da moda em busca de talentos genuínos e trabalhos admiráveis para os olhos e para a alma. Meu interesses é fomentar e informar sobre o que mais além do trivial se pode fazer da moda, em moda e para a moda. Nessa busca fomos apresentados por Bruno Melo, ao projeto de seus amigos em Campina Grande chamado Vista Margarida da marca Esqueleto de flor. De nossas conversas via WhatsApp e Facebook a pontinha do barbante descortinou uma obra maravilhosa de encher os olhos e corações de quem o ver. E é claro que de cara tudo isso precisava marcar presença aqui no site e em nossas redes sociais.
ESQUELETO DE FLOR A MARCA
Falar sobre a marca é citar a coleção que tem como inspiração a simplicidade do interior, da mulher do campo e das mudanças que esse cenário vem sofrendo. Foi construída com elementos simples e compostos ao mesmo tempo e tem, além de uma mistura inusitada de tecidos, que está o DNA da marca, cores que fazem referência ao campo, à terra, ao sangue que foi derramado por Margarida [Maria Alves] e no movimento que dessa figura nasceu: a Marcha das Margaridas. “A Vista Margarida é bastante colorida, pois quis retratar a força que vem dessa mulher e sua história, que mesmo sendo trágica, é cheia de esperança, alegria e diversidade.” diz Jefferson de Souza, Diretor Criativo da Esqueleto de Flor.
O PROJETO
O Vista Margarida além de uma coleção de roupas é um projeto que celebra a liderança feminina na zona rural nordestina, criando novos olhares para essas pessoas que historicamente tiveram uma vivência de dor, sofrimento, ignorância e passividade e, por isso, procurou aliar-se com organizações que são movidas pelas mulheres dessa região, que assim como Margarida Maria Alves, nossa musa inspiradora, acreditam no trabalho como caminho para a dignidade do ser humano com justiça e igualdade.
PROCESSO CRIATIVO E FEITURA
“Em todas as visitas, fomos recebidos por Dona Maria Helena, a cooperada que se coloca a frente da iniciativa, no local onde estão as estufas, que entre piadas e olhares curiosos no set, tratou nossa equipe com muito bom humor e hospitalidade, e nos mostrou que sabe liderar o espaço com primazia. O lindo cenário nos proporcionou o clima desejado para as fotos. Pudemos criar um universo bucólico e que traz as cores da região, que faz parte do universo de Margarida, sem gerar um clima lúdico, uma vez que o tema trata de uma realidade em que a fantasia dos contos de fadas não se faz muito presente. Tínhamos elementos essenciais para essa produção: terra, vegetação, as flores, a energia do trabalho realizado no ambiente, a história daquelas mulheres cooperadas em cada canto daquele espaço. Envolvidos nessa atmosfera campestre conseguimos levar o projeto para um lugar de naturalidade, dramaticidade, honestidade, beleza, arte e moda.” relata Lucas Truta, diretor geral do projeto.
MARGARIDA MARIA ALVES
A musa de inspiração da coleção nasceu em 5 de agosto de 1933, na cidade de Alagoa Grande, e foi a primeira mulher presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da região. Foi uma mulher forte que conseguiu fugir dos estereótipos que lhe foram impostos como mulher nordestina e camponesa. Margarida trabalhou na defesa dos direitos dos trabalhadores e, por isso, entrou em conflito com o interesse dos latifundiários, que enxergavam nela uma ameaça. No discurso realizado no dia do trabalho de 1983, na cidade de Sapé, a sindicalista declarou: “Eles não querem que vocês venham à sede porque eles estão com medo, estão com medo da nossa organização, estão com medo da nossa união, porque eles sabem que podem cair oito ou dez pessoas, mas jamais cairão todos diante da luta por aquilo que é de direito devido ao trabalhador rural, que vive marginalizado debaixo dos pés deles”. Três meses depois, Margarida foi assassinada em frente à sua família a mando de um rico proprietário de usina da cidade, mas a sua voz não morreu, ela continua ecoando nos ouvidos de quem acredita na luta pela igualdade de direitos. Com sua morte foi criada a Marcha das Margaridas em sua homenagem e que é feita até hoje. No lançamento do projeto e da coleção, além do desfile o espetáculo contarou com apresentações de Sandra Belê e um grupo de mulheres do quilombo de Alagoa Grande (cidade de Margarida Maria Alves), Caiana dos Crioulos no Teatro Municipal Severino Cabral, em Campina Grande/PB.
O EDITORIAL
As fotos do editorial foram feitas nas ruínas da usina de Santa Maria (Pilões/PB) e na COFEP (Cooperativa de floricultores do Estado da Paraíba), uma cooperativa fundada em 1999, por iniciativa de Karla Cristina Paiva Rocha, que junto a outras mulheres da zona rural do município de Pilões, no Brejo Paraibano, buscaram uma forma de empreendimento que trouxesse autonomia financeira para quem estava restrita ao ambiente doméstico, como esposa e dona de casa. Com a ajuda do SEBRAE, decidiram que o novo negócio estaria ligado a plantação e comercialização de flores, enfrentaram os olhares de negação dos próprios maridos e familiares e venceram a barreira do machismo fazendo com que hoje a cooperativa consiga beneficiar mais de 100 pessoas direta e indiretamente com o que é produzido dentro de suas 60 estufas.
LINKS:
Confira todas as fotos do editorial em nosso Tumblr clicando aqui.
Use os produtos da coleção através do site da marca aqui.