assim que eu crio - por Jorge Feitosa - Rodolfo

assim que eu crio – por Jorge Feitosa

Jorge Feitosa é estilista e criador de sua moda, sendo especialista em Sulanca e agora também escreve para o boxfashiON

Assim que eu crio, o que se dá das coisas que eu faço? Esses dias uma pessoa de uma agência de marketing, no meio de uma conversa sobre outro assunto, passou a falar do meu Instagram e me deu um toque: “Posso indicar pra você uns filtros. Vi que as imagens no seu perfil do insta estão destoando umas das outras. E as pessoas percebem quando é diferente dos demais, parece que não tem estética”. Eu como ariano que sou, sem pensar respondi: ”Pois é, você percebeu certo, aliás eu raramente, pra não dizer quase nunca, uso filtros. Mas sobre ‘estar fora da estética’ você parou pra pensar que não ter filtro, pode ser uma estética”?

Essa conversa me levou a pensar sobre o quanto estamos, mais do que nunca, submetidos às determinações de tendências e “modas” quase por obrigação! Principalmente quem trabalha na indústria da tríade Moda-Têxtil-Vestuário. É uma busca constante por likes e compartilhamentos em busca da venda.

veja aqui o texto anterior de Jorge Feitosa

Para quem acompanhou o desenvolvimento do Polo de Confecções do Agreste Pernambucano, aprendeu organicamente que “estar na moda” sempre esteve ligado a “usar o que é de fora” (lembro que durante muito tempo, vários confeccionistas tinham vergonha de usar o que fabricavam). Isso de certa forma é uma verdade, a ideia de que o novo surge do outro sempre foi uma premissa da moda. E naturalmente ela está ligada à lógica matemática da moda que se resume no seguinte:

Imagine dois (02) grupos distintos de pessoas, sendo um maior, com pessoas que vestem laranja e um bem pequeno que veste branco. Usando esses grupos como referência podemos afirmar que o laranja está na moda por ser a cor usada por um grupo maior de pessoas, e que o branco não está na moda por ser a cor usada por um número pequeno de pessoas.

Até que alguém do grupo menor, passa a usar a cor pink. E algumas pessoas do grupo maior, olham aquilo e aos poucos trocam o laranja por pink. Isso simplifica a ideia de tendência, que é quando um pequeno grupo (ou um comportamento) passa a chamar a atenção de um grupo maior. Enquanto poucas pessoas do grupo maior estão trocando a cor laranja por pink, ainda não é moda, ela só se estabelece quando a maioria entre os dois grupos passam a usá-la. Ou seja, quando matematicamente um grande número de pessoas, independente dos grupos deixaram de usar suas cores (laranja e branco) e passaram a usar o pink.

Sempre foi assim, principalmente depois do surgimento do comércio mercantilista (1.500 anos d.C.) as tendências aos poucos vão influenciando na nossa cultura, principalmente na maneira como nos vestimos, ainda mais quando estimuladas pela indústria do fast fashion. E esse é outro ponto muito importante nessa conversa. Pois tudo que é confeccionado e destacado como sucesso no Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco, é fruto dessa lógica. A realidade para muitas “marcas” é a de esperar pra ver o que o vizinho vai colocar na banca ao lado e ver se tem “saída”, para a partir daí correr pra loja de tecido e investir no “que deu certo”. Essa lógica acaba com todas as possibilidades saudáveis de desenvolvimento de um produto. Ela vai estabelecendo como normal um sistema exploratório econômico e social.

Quando a gente compra escondido a “modinha” do vizinho e “tira o molde”, e ainda sai dizendo “eu criei”!, estamos na verdade desvalorizando o trabalho do designer, do estilista de moda, da modelista, e de todos os profissionais que trabalham na área de desenvolvimento de um produto. Estamos dizendo que o que eles cobram é caro, “pois eu consigo fazer sem eles”. Será mesmo que consegue fazer o que eles fazem?! Ou você se engana e engana o seu cliente, vendendo um peça com etiqueta G que só veste um P, pra poder encaixar três tamanhos no corte?!  E fora o esgotamento mental e físico dos trabalhadores que, para acompanhar esse mercado do fast fashion, trabalham dobrado para as marcas que não entendem o que é um processo de desenvolvimento. E esse é o ponto dessa nossa conversa: Enquanto marcas, somos criadores, produtores ou somente reprodutores?

Não tem problema algum ser só uma empresa que apenas produz ou reproduz (aliás tem! Quando ela confecciona cópias, isso é crime!). A questão está em se dizer criadora e não ser. Se dizer “Capital da Moda”, e não valorizar os designers ou saber do que realmente se trata o importante processo de desenvolvimento de produto. É muito bom estarmos atentos a como nos relacionamos enquanto marcas, sejamos grandes, médias ou pequenas, pois os consumidores que nos acompanham nas redes sociais não estão mais só querendo acompanhar o nosso life style. Pois da mesma forma que a internet mostra as belíssimas imagens de nossos produtos cheias de filtro no Instagram, ela também pode promover exposed de como os “criamos”.

quer ver o perfil sem filtro de Jorge Feitosa? Toque aqui.

Sobre Rodolfo Alves

Sou publicitário que vivo criando conteúdos e ideias, fuçando novidades. Amo a comunicação e estou interessado pela moda no mundo: seja ela nas passarelas de grifes famosas ou nas feiras populares do Brasil.

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